sábado, 5 de fevereiro de 2011

DÉCIMO QUINTO RELATÓRIO ANUAL DO


PROJETO COLABORATIVO DE PESQUISAS EM

FIBRODISPLASIA OSSIFICANTE PROGRESSIVA

(FOP)

ABRIL 2006

FREDERICK S. KAPLAN, M.D.

EILEEN M. SHORE, PH.D.

A pesquisa sobre a FOP não é uma corrida ou uma maratona, mas sim uma viagem épica

em uma remota e formidável cadeia de montanhas da ciência e da medicina onde picos

maciços de gelo e torres de pedra se estendem sobre o vale e na qual cada pedaço de rocha

e barranco representa inimagináveis perigos e promessas. Por quinze longos anos,

estivemos procurando nesta imensidão imaginária desolada e perigosa – o metafórico pico

da cadeia de montanhas da FOP, cuja descoberta criaria um farol de esperança que

iluminaria instantaneamente o nosso mundo.

Durante quinze longos anos…

… Era final de Agosto de 2005. O ar estava rarefeito e a subida difícil. O ângulo da subida

era íngreme e nossa passagem precária. Cada passo era tedioso, trabalhoso e exaustivo.

Tomamos nosso caminho de pedra em pedra através trilhas inexploradas, por entre nuvens

que obscureciam a nossa visão. Não podíamos ver o precipício abaixo de nós e tropeçamos

– uma cambaleada que fez os nossos corações pararem. Enquanto lutávamos para retomar o

equilíbrio com alguns passos rápidos, emergimos em um mundo estranho.

Pela primeira vez em quinze anos, neste impiedoso circo de montanhas, estávamos acima

das nuvens. Cada passo era iluminado pelos raios de sol que explodiam em todas as

direções,e adiante havia um céu de horizonte infinito. A visão de picos menores surgia no

sólido tapete de nuvens abaixo de nós. Estávamos atônitos pela revelação, como se

estivéssemos sendo transportados por um sonho.Seria possível? Nós revisamos nossa

trajetória, nossos passos finais, nossos mapas e continuamos perplexos. O silêncio era

reverencial. Quinze anos nas altas montanhas e finalmente, finalmente havíamos alcançado

o topo. Havíamos descoberto o gene da FOP. XXXX

O gene da FOP – não é apenas a mais importante descoberta do ano, da década e do

milênio, mas é inquestionavelmente a mais importante descoberta da história das pesquisas

em FOP. Esta é uma descoberta que não pertence a um cientista, ou a um médico ou

laboratório. Ela pertence a toda a comunidade FOP de todo o mundo e à posteridade. É uma

descoberta que mudará tudo no campo das pesquisas em FOP e esperamos que muito mais.

Em um suplemento especial deste Relatório Anual, iremos compartilhar com vocês os

detalhes desta descoberta tão excitante, os caminhos que nos levaram ao topo, e as

implicações que ela tem nas pesquisas sobre a FOP a partir deste dia. Resumindo, este é o

início de uma nova era.

Algumas pessoas nos pediram para escrever uma versão menor do Relatório Anual de FOP.

Aqui está ela, em oito palavras, em forma de título: Descoberto o Gene da FOP: A Chave

do Esqueleto Oferece uma Nova Esperança.

Costumamos dizer que quando os avanços reais ocorrerem, não precisaremos de livros, mas

apenas de pedaços de papel nos quais poderemos rabiscar os segredos mais sagrados da

natureza; guardados durante períodos geológicos de tempo – no caso do gene da FOP por

quase 500 milhões de anos – muito mais tempo do que as nossas montanhas metafóricas

existem.

Para aqueles que gostam da precisão da matemática, oferecemos esta equação:

FOP = ACVR1(c.617G>A; R206H)

Esta é toda a informação que você necessita para recriar a FOP. Tão pequeno que cabe em

uma casca de uma noz. Falaremos mais a respeito disso mais tarde (veja o suplemento do

15° Relatório Anual).

Fugindo à tradição, devotaremos todo o relatório anual e seu suplemento a apenas um

assunto – a descoberta do gene da FOP. Antes, um pequeno resumo da descoberta e depois

algumas outras manchetes do ano.

A DESCOBERTA DO GENE DA FOP: UM BREVE RESUMO XXX

O gene da FOP foi descoberto no Laboratório de Pesquisas em FOP na Universidade da

Pensilvânia, na Filadélfia, em Agosto de 2005. Foi uma descoberta incrível. Quando

iniciamos nossa viagem pelas pesquisas em FOP há 15 anos atrás, nossa área de exploração

era todo o genoma humano, que contém o incrível número de seis bilhões de pares de DNA

em cada célula – em outras palavras, o “universo genético humano”. Utilizando como guia

marcadores moleculares de seqüências de DNA do genoma humano, juntamente com

informações sobre estes marcadores moleculares no DNA de cada paciente (das famílias

multigeracionais principais que encontramos nos últimos quinze anos), conseguimos

estreitar nossa área de exploração do gene da FOP – passando do “universo genético

humano” para a galáxia, da galáxia para o sistema solar, do sistema solar para o planeta, do

planeta ao hemisfério, do hemisfério ao continente, do continente ao país, do país à região,

da região ao estado, do estado ao condado, do condado à cidade e da cidade ao bairro. No

ultimo relatório anual, nós dissemos que estávamos “dentro do bairro”, e que bairro grande

era esse!

Durante o ano de 2005, nós obtivemos o mapeamento genético de duas famílias FOP

multigeracionais adicionais e estreitamos ainda mais a localização do gene para “uma rua

larga” – algumas centenas de “casas” (genes candidatos) no cromossomo humano 2. Um

gene candidato para a FOP era um gene que, quando danificado poderia plausivelmente

causar a FOP.

Como nos anos anteriores, nós checamos vários genes candidatos (casas em nossa rua

genética) e não encontramos nada de interessante para a FOP. Entretanto, uma destas casas,

parecia particularmente interessante baseado no tráfego molecular que vimos na vizinhança

genética. Decidimos entrar na casa, procurar em cada andar, cada cômodo, cada mobília e

não encontramos nada. “Este não deve ser o lugar em que está o gene da FOP”, pensamos .

Estávamos prontos para abandonar a casa e ir adiante.

Estávamos no ultimo andar da casa, no ultimo cômodo. Checamos todas as caixas, todos os

móveis, todas as gavetas e não encontramos nada – nem uma pequena pista. Quando

estávamos prestes a ir embora, notamos pela primeira vez uma Linda escrivaninha antiga,

escondida em um canto mal iluminado do quarto. A escrivaninha era pequena e gasta pelo

tempo. Caminhamos até ela e abrimos metodicamente todas as gavetas. Novamente, não

encontramos coisa alguma. As gavetas estavam vazias. Quando estávamos fechando a

última gaveta, ela repentinamente emperrou. Removemos a gaveta para ver qual era o

problema, e atrás dela encontramos um fundo falso. Nós então o removemos e encontramos

um buraco. Dentro deste buraco, havia uma pequena caixa de ouro. Tiramos a caixa e a

abrimos. Dentro dela, encontramos duas pequenas chaves de ouro – as menores que se pode

imaginar. As chaves eram idênticas, a menos por um pequeno entalhe. Viramos as chaves e

em uma delas estava escrita a palavra “NORMAL”; na outra a palavra “FOP.” Olhamos

dentro da tampa da pequena caixa e nela estava gravado, no mais antigo código genético as

palavras: “ESTAS SÃO AS CHAVES DO ESQUELETO.” Havíamos encontrado o gene e

as chaves para o universo da FOP. Ficamos atônitos, parados, olhando para o começo de

um novo mundo. XXX

O GENE FOP

O gene FOP é conhecido como ACVR1. Este gene codifica uma proteína chamada ACVR1

ou Activin Receptor Tipo 1A, que é um receptor de uma proteína osteomorfogênica (BMP)

similar ao BMPRIA e ao BMPRIB, os dois receptores de BMP de que vocês já ouviram

falar em relatórios anteriores. (simplificando, o gene ACVR1 manda o corpo produzir um

receptor chamado ACVR tipo 1 ao qual a BMP se liga para poder agir).

GENE ACVR1

BMP

Obs: o ACVR1 está danificado de tal forma que envia sinal para o corpo fabricar ossos,

mesmo sem a ação das BMPs

O ACVR1 era originalmente tido como o receptor do fator de crescimento Activin,

entretanto estudos recentes mudaram esta perspectiva. Na verdade, o ACVR1 é um receptor

de BMP4, e também de outras BMPs. O ACVR1 é necessário à vida e tem um papel

importante no desenvolvimento do coração, articulações, espinha e membros. O ACVR1

tem uma grande expressão nos músculos esqueléticos e no tecido conectivo, mas suas

funções normais nestas células e tecidos são desconhecidas. O gene ACVR1está localizado

no braço longo do cromossomo humano 2. Cada pessoa tem duas cópias do gene ACVR1.

As pessoas que têm FOP possuem uma cópia normal do gene ACVR1 e uma cópia

danificada.

Até o momento nós examinamos os genes ACVR1 em mais de 60 pacientes com

características clássicas de FOP (má formação congênita dos dedos grandes dos pés e

PRODUÇÃO DE

RECEPTORES DE

BMP ACVR1

RECEPTOR

ACVR 1

+ = AÇÃO DAS BMPs NO CORPO,

INCLUINDO FORMAÇÃO DE OSSO

ossificação heterotópica progressiva em padrões anatômicos característicos) e todos têm a

mesma mudança na seqüência do DNA, exatamente no mesmo local do gene ACVR1. A

mutação da FOP ocorre em apenas letra do DNA (dentre seis bilhões de letras do DNA

existentes em todo o genoma humano), exatamente no mesmo ponto em todas as pessoas

que têm a FOP clássica. Não importa se a pessoa herdou uma cópia danificada do gene

ACVR1 de um pai afetado (como em uma das famílias multigeneracionais) ou se esta

pessoa apresenta uma mudança nova (espontânea) da seqüência do DNA. Exatamente a

mesma mutação no ACVR1 é vista em indivíduos afetados de cada tipo étnico, racial, e

geográfico.

A mutação da FOP faz com que um aminoácido chamado histidina (abreviadamente “His”)

-aminoácido é como se fosse um tijolo que forma a proteína - seja substituído para um

aminoácido chamado arginina (“Arg”) na posição 206 da proteína ACVR1 em todas as

pessoas que têm FOP clássica. Essa única substituição do aminoácido em ACVR1 causa a

FOP. Como dissemos, ACVR1 é um receptor de BMP, um interruptor molecular que

determina o destino das células no qual ele é expresso.

A posição 206 do gene ACVR1 está em uma parte do receptor que está dentro da célula -

um componente do interruptor de controle que determina como, quando e qual a

intensidade do sinal molecular que será transmitido para a molécula seguinte no caminho

de sinalização. Ou seja, a posição 206 de ACVR1 é o entalhe na chave da FOP que é

diferente da chave normal.

O gene ACVR1 estava no topo de nossa lista de genes candidatos mais prováveis, mas nós

nunca esperamos encontrar o tipo de mutação que encontramos - uma mutação diferente de

todas as outras vistas no campo da genética humana. É uma mutação incrível em termos de

fidelidade e uniformidade toda a comunidade FOP de todo o mundo.

A mutação afeta não somente o mesmo gene em cada indivíduo com FOP clássico, mas

afeta o mesmo segmento do gene (exon), da mesma palavra genética (codon) do gene, e, na

verdade, da mesma letra genética (nucleotídeo) do gene em todas as pessoas com FOP

clássico. É uma descoberta de tirar o fôlego.

Há diversos anos, os cientistas ativaram formas artificiais de ACVR1 (similar mas não

idênticas àquelas que nós agora sabemos que causam a FOP), as injetaram em embriões da

galinha e do peixe zebra, e descobriram que estes genes aumentavam a ação da BMP4, e

diminuíam a ação dos antagonistas das BMP , induziam a ossificação heterotópica e

estimulavam a fusão das articulações – características clinicas e moleculares das pessoas

que têm FOP.

A substituição do aminoácido histidina pela arginina na posição 206 do gene

ACVR1 provavelmente altera a estrutura do gene ACVR1 e sua interação com outras

proteínas. XXXXXXX

A forma exata como esta mutação causa a mudança no sinal que é transmitido para as

células do núcleo (desencadeando assim uma mudança no destino da célula) é ainda

desconhecida, mas já é assunto de estudos intensos no Laboratório da FOP e deverá ser

melhor compreendido antes que tratamentos adequados sejam desenvolvidos. É como

descobrir um curto-circuito especifico em um interruptor também muito especifico (e no

caso da FOP, no interruptor que transforma uma lâmpada em uma bomba atômica). Agora

sabemos como é o interruptor danificado na FOP mas não podemos desarma-lo com

segurança até que saibamos exatamente como ele funciona. E já estamos trabalhando nisto,

podem apostar!

A presença do aminoácido arginina na posição 206 do gene ACVR1 foi conservada durante

toda a evolução dos vertebrados por quase 500 milhões de anos. Isto significa que a

natureza não pode tolerar uma substituição de aminoácidos em um gene sem que haja

graves conseqüências.

A ACVR1é uma antiga proteína “ajustada às suas maneiras,” e que não gosta de ser

modificada.

A mutação da FOP, uma substituição do aminoácido histidina pelo aminoácido arginina na

posição 206, conseqüentemente violou uma das proteções críticas que a natureza projetou

no gene ACVR1 e portanto também no caminho de sinalização das BMPs durante centenas

de milhões de anos de evolução. É uma regra de segurança que existe em peixes, galinhas e

humanos, e que já existia muito antes de os dinossauros surgirem na face da Terra. A

mutação da FOP inutiliza um antigo interruptor de segurança no gene ACVR1 e no receptor

que ele codifica.

A descoberta da mutação existente na FOP no gene ACVR1 confirma nossa hipótese

original a respeito da causa da doença, valida nossos trabalhos anteriores sobre a alteração

na regulagem do caminho de sinalização das BMPs na FOP, e fornece o primeiro indício de

como este interruptor quebrado pode estar emperrado na posição “ON” (ligado). Entretanto,

ainda não sabemos completamente a forma como o interruptor danificado ativa a formação

de ossos ou como é influenciado por traumatismos ou outros fatores desencadeantes

imunológicos e este conhecimento será crítico para a elaboração de tratamentos efetivos

para desativar o interruptor (tirar da posição “ON”). Já iniciamos nossas investigações

sobre estas importantes questões.

A descoberta do gene da FOP também fornece a oportunidade para a produção de ratos

através de engenharia genética que tenham a FOP clássica – um desenvolvimento que

abriria a porta para a elaboração de tratamentos e para o teste dos mesmos. Apesar de

tratamentos eficazes não estarem disponíveis imediatamente, nenhuma descoberta expandiu

tanto e tão rapidamente o nosso horizonte ou nos deu mais esperança.

A descoberta do gene da FOP é o caminho mais brilhante que temos em nossa jornada para

o encontro de uma cura.

Esta descoberta estabelece uma ligação específica e robusta entre uma doença humana

catastrófica e um caminho de sinalização celular altamente conservado na natureza e nos

traz um objetivo atormentante para a descoberta de drogas tanto para a FOP como para a

medicina regenerativa. A descoberta do gene da FOP será significativa para cientistas de

todo o mundo e para médicos em vários campos da medicina.

Causa e cura sempre foram os princípios que guiam as pesquisas sobre a FOP.

Hoje, estamos no meio do caminho.

AS OUTRAS NOTÍCIAS DO ANO

Apesar de a descoberta do gene da FOP ter compreensivelmente cativado a nossa atenção,

outros destaques das pesquisas durante o ano de 2005 incluem as seguintes descobertas e

achados:

.. Dois grupos principais do caminho que regula os sinais que vão para as BMPs estão

desregulados nas células de quem tem FOP. Um destes grupos parece estar em especial

atividade durante o desenvolvimento do indivíduo e o outro em resposta ao stress físico.

Entretanto, existe uma grande relação entre os dois. A forma exata como a mutação

genética recentemente descoberta na FOP afeta os dois grupos citados acima será o foco de

estudos intensos no Laboratório FOP daqui para frente e este trabalho irá revelar novas

oportunidades de tratamento. Dois artigos importantes sobre este assunto foram publicados

pelo Laboratório FOP em 2005; um no “Journal of Bone & Mineral Research”, e o outro no

“Clinical Reviews in Bone and Mineral Metabolism”. Outro manuscrito foi aceito

recentemente para publicação.

.. Células-tronco do tecido conectivo que foram isoladas de dentes de bebês, fornecem uma

nova e importante ferramenta para a investigação dos caminhos que sinalizam as BMPs nas

células das pessoas com FOP. Até pouco tempo atrás, todos os nossos estudos “in vitro”

(“in vitro” se refere a estudos feitos em tubos de ensaio, não em seres vivos – neste caso o

autor se refere a culturas de células) vinham sendo conduzidos em células linfoblastóides

derivadas do sangue devido à facilidade e segurança em se obter estas células através de

exames de sangue de rotina. Apesar de algumas células do sangue terem seu papel nos

estágios iniciais dos surtos de FOP e estarem presentes nas lesões iniciais, elas não são as

células que primariamente formam os ossos heterotópicos nas lesões de FOP. Desta forma,

é essencial estudar o caminho das BMPs em um tipo de célula que possa ser mais

representativa dentre as células que estão presentes nas lesões fibroproliferativas iniciais da

FOP (pre-ósseas). As células-tronco do tecido conectivo, isoladas dos dentes de bebês

fornecem este material; e estão se tornando cada vez mais importante no estudo dos dois

grupos principais do caminho que regula os sinais que vão para as BMPs na FOP.

.. Pelo menos duas populações distintas de células-troco adultas são necessárias para formar

um esqueleto ectópico. A questão central é: Que tipo de célula-tronco ou célula progenitora

é diretamente responsável pela formação do segundo esqueleto na FOP? Descobrimos que

ao menos duas populações de células-tronco são necessárias para a formação de um

esqueleto ectópico: uma que dê origem à medula óssea e outra que dê origem ao arcabouço

do esqueleto. É muito interessante que a ativação do caminho de sinalização das BMPs é

suficiente para recrutar e regular de forma coordenada as duas populações de células-tronco

seguindo um padrão dinâmico que não pode ser reproduzido isoladamente por cada uma

destas populações. Esta importante descoberta é a base para o entendimento de como a

mutação altamente específica no gene ACVR1 leva ao recrutamento tecidual local de

discretas populações de células-tronco capazes de construir um esqueleto ectópico.

.. A sinalização anormal das BMPs na FOP afeta a formação e o funcionamento das

articulações. Durante muitos anos, observamos que a maior parte das crianças com FOP

apresenta endurecimento do pescoço muito antes de formar ossos ectópicos neste local. Por

este motivo, conduzimos um estudo radiológico dos ossos e articulações do pescoço em 70

crianças com FOP para determinar o local exato e a gravidade do problema. Observamos

anormalidades congênitas dos ossos e articulações do pescoço em quase todas as crianças

jovens que têm FOP. É ainda mais interessante notarmos que estas anormalidades estavam

presentes antes do surgimento das ossificações heterotópicas no pescoço e eram

impressionantemente similares às vistas nos ratos que não produzem a Noggin (antagonista

das BMPs) que foram desenvolvidos por engenharia genética. Uma vez que estes ratos não

produziam a Noggin, suas BMPs eram bastante ativas. Sabemos agora que a causa da FOP

é um receptor de BMP danificado (o ACVR1) e não uma quantidade menor de Noggin, e

que o resultado final é similar – uma sinalização aumentada para as BMPs. Ë ainda mais

importante dizer, que esta sinalização super ativa das BMP não tem conseqüências apenas

na formação de ossos heterotópicos, mas também na má formação das articulações –

especialmente dos dedos grandes dos pés, mas também nas articulações do pescoço (e

talvez também de outras articulações, como as que ligam as costelas à coluna). Desta

forma, a mutação no ACVR1 que causa a FOP tem implicações importantes para o

entendimento de doenças articulares (doenças das “juntas”do corpo) da mesma forma que

é importante para o entendimento do desenvolvimento da formação de ossos heterotópicos

(fora do lugar certo). Um artigo detalhado sobre este assunto foi publicado na revista

SPINE em 2005.

.. Os ratos FOPPY continuam a fornecer pistas importantes sobre os mecanismos de

ossificação heterotópica. Estudos recentes realizados nestes ratos, revelaram um importante

papel dos traumas nos tecidos moles na indução de ossificações heterotópicas. Estamos

trabalhando atualmente no desenvolvimento de ratos com FOP (geneticamente modificados

para produzir a doença), com base no conhecimento que agora temos sobre a mutação

genética que causa a FOP.

Entretanto, até que estes ratos sejam desenvolvidos, os ratos FOPPY continuarão a ser um

importante modelo animal para as pesquisas em FOP e para as pesquisas de ossificações

heterotópicas pós-traumáticas (que ocorrem após traumatismos). Apesar de os ratos FOPPY

não terem a FOP verdadeira, o desenvolvimento de ossificações heterotópicas de forma

progressiva em qualquer modelo animal, fornece uma importante dimensão para

entendermos a FOP.

.. Danos graves são causados a pessoas com FOP em conseqüência de diagnósticos errados.

Um estudo colaborativo conduzido pelo Dr. Joseph Kitterman, Professor de Pediatria na

Universidade da Califórnia - São Francisco, demonstrou que os erros de diagnóstico e os

procedimentos médicos inapropriados acarretam danos permanentes aos pacientes e alteram

o curso natural da FOP. O estudo mostrou que em 87% das vezes, a FOP é diagnosticada

erroneamente e que as pessoas que têm FOP demoram aproximadamente quatro anos para

ter um diagnóstico correto. Na maior parte dos casos, a FOP é diagnosticada como câncer.

Os diagnósticos errados acarretaram procedimentos dolorosos e desnecessários (como

biópsias e tratamentos incorretos) que pioraram a FOP, fazendo muitos dos pacientes

estudados perder mais rápida e permanentemente a mobilidade. Infelizmente, os danos

causados por erros no diagnostico da FOP são muito comuns em todo o mundo e têm

modificado a evolução natural da doença na maioria dos indivíduos afetados. Atenção Aos

sinais e sintomas facilmente identificáveis da FOP na tenra infância pode limitar a

incapacidade e os danos permanentes resultantes dos erros de diagnóstico e dos

procedimentos invasivos inapropriados. Este estudo foi publicado na edição de novembro

de 2005 da revista Pediatrics. Esperamos que ele tenha um impacto substancial na contínua

educação de pediatras de todo o mundo.

.. Um estudo realizado em gêmeos idênticos mostrou que fatores ambientais têm um papel

importante na progressão da FOP. Fatores genéticos e ambientais afetam as características

clinicas da doença. Nós estudamos três pares de gêmeos idênticos com FOP e encontramos

em cada par as malformações congênitas idênticas dos dedos grandes dos pés. Entretanto, a

gravidade e o grau de progressão das ossificações heterotópicas variaram muito,

dependendo da história de vida de cada um e dos agentes ambientais aos quais foram

expostos. @ O estudo mostrou que determinantes genéticos influenciam fortemente as

características da doença durante o desenvolvimento pré-natal. Já os fatores ambientais,

como traumatismos nos tecidos moles do corpo e infecções virais, influenciam de forma

intensa a progressão pós-natal da doença. Este estudo foi publicado em uma edição especial

sobre FOP na revista Clinical Reviews in Bone and Mineral Metabolism.

.. Avanços importantes na pesquisa de tratamentos com base nas descobertas do laboratório

ocorreram em 2005 e incluíram a confirmação da utilidade do uso da terapia genética com a

Noggin em modelo animal e do uso de anticorpos monoclonais (direcionados contra um

pequeno grupo de receptores de BMP) para modular a super atividade da via de sinalização

das BMPs nas células FOP.

A recente descoberta do gene da FOP irá refinar dramaticamente as idéias a cerca de um

tratamento e de uma eventual cura da FOP. A natureza peculiar da mutação genética da

FOP nos fornece um alvo farmacológico especifico em um caminho chave de sinalização, e

será o foco principal das pesquisas em FOP em um futuro próximo.

Abordagens para bloquear a atividade do receptor de BMP anormal existente na FOP

poderão incluir o desenvolvimento de anticorpos monoclonais específicos contra o

ACVR1; inibidores da transdução de sinais para neutralizar a atividade do receptor;

tecnologia com o uso de RNA inibidor para bloquear a formação do receptor ACVR1

danificado; ou tecnologias de terapia genética para enviar antagonistas das BMPs como a

Noggin prevenindo assim a ligação das mesmas ao receptor hiper ativo. No presente

momento, é impossível determinar qual a abordagem ou qual a combinação de abordagens

poderá ser mais útil. Entretanto, a coisa mais importante que devemos ter em mente é que

agora nós temos um alvo terapêutico altamente especifico e temos também as ferramentas

necessárias para desenvolver e testar novos tratamentos.

É difícil dimensionar o extraordinário entusiasmo e esperança que a descoberta do gene da

FOP traz para o futuro das pesquisas nesta doença e para o desenvolvimento de potenciais

tratamentos. Apesar de sabermos que um tratamento efetivo para a FOP não será obtido

imediatamente (e que na verdade será necessário muito trabalho por parte de muitas

pessoas), nós finalmente estamos acima das nuvens, e o horizonte terapêutico é agora

visível e brilhante.

APRESENTAÇÕES, ENCONTROS, RELATÓRIOS E PUBLICAÇÕES

Durante o ano de 2005, tivemos o privilégio de fazer grandes apresentações sobre FOP nos

seguintes locais:

• American Society for Bone & Mineral Research; em Nashville, Tennessee (EUA)

• Medizin Klinikum; Garmisch-Partenkirchen, Alemanha

• Mount Sinai Medical Center; Nova York, Nova York (EUA)

• New York Academy of Sciences; Nova York, Nova York (EUA)

• Northeastern Ohio Universities College of Medicine; Rootstown, Ohio (EUA)

• Oxford University; Oxford, Reino Unido

• St. Louis University; St. Louis, Missouri (EUA)

Durante o ano de 2005, tivemos a honra de apresentar os pontos mais importantes das

pesquisas em encontros regionais e internacionais de famílias FOP nos seguintes locais:

• Aberdeen, Escócia

• Bedminster, Nova Jersey

• Dingolfing, Alemanha

• Freyung, Alemanha

• Orlando, Flórida

• Roscoff, França

• Santa Maria, Califórnia

• Sausalito, Califórnia

• Valbert, Alemanha

• Washington, D.C. , EUA

Artigos Publicados

Em 2005, publicamos vinte e cinco artigos importantes sobre a FOP, sendo que 19 deles

apareceram em uma edição especial da revista Clinical Reviews in Bone and Mineral

Metabolism que foi dedicada inteiramente à FOP. Nesta edição foram publicados

numerosos artigos sobre os aspectos clínicos e a ciência básica que envolve a FOP. Esta

edição especial da revista Clinical Reviews in Bone and

Mineral Metabolism foi publicada no outono de 2005 e está disponível no site da IFOPA:

www.ifopa.org . Pode também ser obtida com Kamlesh Rai, assistente do Dr. Kaplan’s:

kamlesh.rai@uphs.upenn.edu . O índice dos artigos disponíveis inclui:

1. Introdução - Editores Convidados

2. FOP: Uma Perspectiva Histórica

3. O Fenótipo da FOP

4. Características Imunológicas da FOP e o mecanismo alterado (desregulado) de

sinalização da BMP4

5. A Lesão da FOP

6. A Genética da FOP

7. Três Pares de Gêmeos Monozigotos com FOP: O Papel do Ambiente na Progressão das

Ossificações Heterotópicas

8. O Fenótipo Crânio Facial da FOP

9. Síndrome de Insuficiência Torácica em Pacientes com FOP

10. Alteração da Regulagem de Tráfego e Sinalização do Receptor da BMP4 na FOP

11. Formação de Lesões Semelhantes às Lesões Iniciais da FOP em Ratos Após o Implante

de Células Linfoblastóides Provenientes de Pacientes com FOP.

12. Modelos Animais da FOP

13. O Rato Transgênico Enolase Neuro-Especifico – Rato com Modificações Genéticas

relacionadas à Proteína Osteomorfogênica 4: Um modelo animal semelhante a FOP (um

artigo que mostra que a BMP4 produzida por células nervosas pode causar ossificação

heterotópica progressiva).

14. Cuidados Orais e Odontológicos e Anestesia para Pessoas com FOP

15. Considerações de Tratamento para o Manejo da FOP

16. Reabilitação para Indivíduos com FOP

17. FOP e POH: Duas doenças genéticas de Ossificação Heterotópica

18. Ossificação Heterotópica Não Hereditária: Implicações para os Traumatismos,

Artropatias e Envelhecimento,

19. A Associação Internacional de FOP

O SEU LABORATÓRIO FOP

Durante 2005, a equipe de pesquisas do Laboratório de FOP incluiu 16 pesquisadores:

quatro investigadores principais, quatro especialistas em pesquisa, quatro colegas em pósdoutorado,

dois estudantes graduados, um estudante de medicina, e um estudante prémédico

(que ainda não está na faculdade de medicina, mas deseja ingressar na mesma).

Além disso, dois estudantes de colégio ainda não graduados – um da Universidade de

Rutgers University e um da Universidade Brown se ofereceram para trabalhar

voluntariamente no Laboratório FOP durante o verão de 2005.

Jennifer Fiori, uma estudante graduada da Universidade da Pensilvânia, está terminando

sua tese de doutorado (Ph.D.) a respeito dos caminhos de sinalização das BMPs na FOP.

Ela apresentará seu trabalho e defenderá sua tese em Abril de 2006. Jen deu grandes

contribuições para as pesquisas sobre a FOP e nós desejamos muito que ela continue a fazer

parte de nosso laboratório.

Parabéns, Jen!

Estamos também muito satisfeitos em ter Michael O’Connell, estudante graduado da

University of Southampton (Inglaterra, Reino Unido), trabalhando conosco no laboratório

FOP pelo segundo ano consecutivo. Michael está estudando o papel dos proteoglicans de

sulfato de heparina da superfície da célula na modulação da sinalização da BMP4 na FOP e

nas células controle. Michael ficará conosco durante o outono de 2006, e terminará sua tese

de doutorado (Ph.D.) sob a supervisão conjunta do Professor Trudy Roach de Southampton

(Reino Unido), e dos doutores Kaplan e Shore da Filadélfia.

As fotografias das crianças com FOP enfeitam as paredes do nosso laboratório central e são

uma lembrança constante dos nossos objetivos e da nossa missão. Como costumamos dizer

aos adultos e crianças que visitam o Centro de Pesquisas em FOP e o Laboratório, “Este é

na realidade o SEU Centro e o SEU Laboratório.”

Nós adoramos quando vocês vêm nos visitar.

Grupos de Trabalho

O centro do Laboratório de Pesquisas em FOP está dividido em grupos de trabalho. Há

grupos de trabalho em genética, caminhos de sinalização de células, diferenciação celular,

imunologia (fatores desencadeantes), e pesquisa de tratamentos com base em achados

laboratoriais (modelos animais e tratamentos). Nossos grupos de trabalho e reuniões do

laboratório refletem a grande diversidade e a integração de várias disciplinas cientificas que

são necessárias para podermos alcançar nossos objetivos de longo prazo.

Centro de Pesquisas em FOP e Doenças Relacionadas

O Laboratório central de FOP ocupa aproximadamente 600 metros quadrados na

Universidade da Pensilvânia, mas o nosso espaço virtual se expandiu muito nos últimos

cinco anos com o estabelecimento do Programa de Subsídios para as Pesquisas em FOP.

Através deste importante programa, financiado pelos Fundos de Pesquisa Família Cali e

administrado pelo Centro de Pesquisas em FOP e Doenças Relacionadas, conseguimos

expandir a colaboração com colegas em vários departamentos e escolas da Universidade da

Pensilvânia e de outros locais.

Em 2005, o Programa de Subsídios possibilitou o primeiro trabalho com a colaboração de

profissionais de fora do Laboratório que foi o estudo com os ratos FOPPY no laboratório

do Dr. Lixin Kan na Universidade Northwestern em Chicago. Projetos envolvendo a

linhagem de células receptivas para ossificação heterotópica e o teste de tratamentos

experimentais para a FOP nos ratos FOPPY são conduzidos em colaboração na

Universidade Northwestern e na Universidade da Pensilvânia.

Desde o seu inicio, o Programa de Subsídios do Centro de Pesquisas em FOP e Doenças

Relacionadas apoiou 12 novos e importantes projetos para a nossa missão em longo prazo.

Muitos destes projetos foram descritos em relatórios anuais anteriores, e produziram

informações importantes para as pesquisas em FOP.

Um almoço especial e uma visita ao Laboratório foi realizada em novembro de 2005, para

as pessoas que doaram dinheiro e para os amigos dos Fundos de Pesquisa da Família Cali,

em homenagem a sua extraordinária generosidade para com as pesquisas da FOP na última

década. Mais de 50 pessoas visitaram o laboratório naquele dia tão importante, e ouviram

comentários do Dr. Arthur Rubenstein, Dean da Escola de Medicina Universidade da

Pensilvânia; Dr. Frederick Kaplan, Professor Isaac & Rose Nassau de Ortopedia Molecular;

John Cali, Administrador da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia ; e

Amanda Cali, Presidente da Diretoria da IFOPA.

AGRADECIMENTOS

A FOP continua a ser uma das doenças que mais apresenta obstáculos ocultos e um dos

desafios mais surpreendentes da condição humana, mas com a descoberta do gene da FOP

em 2005, ela se tornou muito menos intrigante do que era há um ano. A pesquisa sobre a

FOP é a chave para o entendimento não apenas da FOP, mas também de outras doenças

mais comuns que afetam a formação óssea e a formação do esqueleto. Em 2005, nós

descobrimos a chave do esqueleto, um “interruptor” molecular que determina o destino das

células. Esta chave será usada para desvendar os segredos da FOP e de muitas doenças

esqueléticas comuns nos anos que estão por vir.

Como dissemos várias vezes anteriormente, causa e cura são as duas palavras que nos

motivam e nos guiam em tudo o que fazemos, nos encaminhando para descobrir a exata

causa genética e molecular da FOP e usar esse conhecimento para desenvolver tratamentos

eficazes e eventualmente a cura. Este ano, nós alcançamos o topo da montanha da FOP.

Descobrimos a causa genética da FOP. Mas um trabalho mais difícil encontra-se adiante -

a viagem traiçoeira através da montanha e também para desce-la – eventualmente nos

levando a chegar na clínica, com tratamentos eficazes e uma cura. Continuará a ser uma

aventura excitante.

Enquanto continuamos a descer através das nuvens e do terreno traiçoeiro, seremos

fortalecidos pelas descobertas que fizemos em nossa expedição ao topo – descobertas que

extremamente necessárias para resolver o enigma da FOP. Não é uma tarefa fácil tratar de

forma eficaz ou curar uma doença genética, e talvez ainda demore muitos anos para que

isto seja feito. Mas será feito.

Precisaremos da ajuda e do suporte continuo de muitos cientistas e laboratórios, e da

também continua generosidade dos pacientes, famílias, e comunidades de todo o mundo.

Agora mais do que nunca.

Entramos em uma nova era das pesquisas sobre a FOP. A esperança está claramente no

horizonte. O Centro de Pesquisas em FOP e o Laboratório continuam a ser valiosos

recursos para pacientes FOP e para a comunidade médica de todo o mundo.

Como sempre, nos esforçaremos para a excelência e liderança em todas as áreas vitais de

nossa missão: o cuidado do paciente, educação sobre a FOP e a geração de novos

conhecimentos.

Em resumo, 2005 foi um ano de desenvolvimentos memoráveis para a pesquisa da FOP -

destacado pela descoberta do gene da FOP, a descoberta a mais importante na história da

pesquisa da FOP. Esperamos que 2006 seja também um ano de grandes avanços nas

pesquisas sobre a FOP e que estes avanços e descobertas possam marcar o ano vindouro.

A comunidade de pesquisadores em FOP passou por uma longa e difícil jornada nos

últimos 15 anos, mas é incrível evoluímos. Continuamos a ser uma comunidade robusta e

vibrante que alcança todo o mundo. Somos unidos em nossos esforços e temos impulso e

vivacidade para alcançar os objetivos que definimos para nós mesmos. Todos os dias nós

somos lembrados que temos uma longa jornada adiante de nós para alcançar nossos

objetivos, mas somos encorajados por nossas conquistas e energizados por nossos desafios.

Como sempre, nossos mais profundos agradecimentos são dirigidos às crianças, adultos e

famílias que convivem com a FOP em todos os momentos de suas vidas. Sua serenidade e

nobreza nos fornecem a inspiração perpétua que dignifica este trabalho e a todos os que têm

o privilégio de participar dele.

Neste ano, desejamos fazer um agradecimento especial a Jeannie Peeper, fundadora da

IFOPA, que se aposentou do cargo de Presidente da Diretoria, mas que continuará por toda

a sua vida como Presidente, porta-voz e líder espiritual de nossa comunidade FOP ao redor

do mundo. Gostaríamos também de agradecer de forma especial a Amanda Cali, nova

Presidente da Diretoria da IFOPA, que efetuou uma tranqüila e magnífica transição durante

estes momentos de desafio. A devoção visionária de Jeannie e Amanda para com as

pesquisas sobre a FOP e para com a comunidade FOP de todo o mundo traz clareza à nossa

missão e esperança para as gerações futuras.

O Projeto Colaborativo de Pesquisas em FOP surgiu do desejo mútuo de encontrar a causa

e de estabelecer uma cura para esta doença incapacitante. Zelo, compaixão e colaboração

são as palavras que unem causa e cura. Nós somos gratos a muitos colegas e colaboradores

provenientes de consultórios médicos, clínicas, hospitais, laboratórios de pesquisa, e

universidades médicas de todo o mundo. Sem a ajuda destas pessoas e seu esforço

incansável tudo seria ainda mais difícil - se não impossível. Juntos, nós alcançamos o

objetivo de estabelecer a causa genética da FOP, e juntos encontraremos uma cura para esta

terrível doença. Nós venceremos. Como disse David Ben-Gurion, o primeiro homem a ser

Primeiro Ministro de Israel, “O que é difícil nós fazemos imediatamente; o que é

impossível leva um pouco mais de tempo.” Como sempre, encontrar um tratamento efetivo

e uma cura para a FOP não é um trabalho, é uma missão.

Todos nós, no Centro de FOP, no Programa de Desenvolvimento de Subsídios e aqueles

que colaboram com o mesmo ao redor do mundo estamos extremamente orgulhosos em

fazer parte desta missão e temos uma enorme gratidão às pessoas que apóiam este esforço

vital de pesquisas:

• Associação Internacional de FOP (IFOPA)

• Instituto Nacional de Saúde (O Povo dos Estados Unidos da América)

• O Centro de Pesquisas em FOP e Doenças Relacionadas

• Os Fundos da Família Cali para as pesquisas em FOP

• Os Fundos da Família Weldon para as Pesquisas em FOP

• O Professorado Isaac e Rose Nassau de Medicina Ortopédica Molecular

• A Sociedade Allison Weiss de Medicina Ortopédica Molecular

• A Sociedade Born-Lotke-Zasloff de Medicina Ortopédica Molecular

• As Sociedades Whitney Weldon - Stephen Roach de Genética Molecular em FOP

• A Sociedade Roemex de Fisiopatologia Molecular em FOP

• A Sociedade Grampian de Fisiopatologia Molecular em FOP

• O Conselho de Pesquisas Médicas e a Universidade de Oxford (Reino Unido)

• A Associação Pierre-Yves (França)

• FOPeV (Alemanha)

• A Associação Brasileira de FOP

• A Associação Escandinava de FOP

• Membros do Consórcio Internacional de Pesquisas em FOP

• As Pessoas de Santa Maria (13 anos de serviços extraordinários)

• E os vários indivíduos, famílias, amigos e comunidades ao redor do mundo que

contribuíram generosa e incansavelmente com os esforços pela FOP.

Mais uma vez obrigado, pelo apoio sincero e continuo para com os esforços urgentes e

vitais empreendidos em nome da FOP.

SUPLEMENTO AO DÉCIMO QUINTO RELATORIO ANUAL:

UM GUIA PARA FAMILIAS E PACIENTES A RESPEITO DO GENE DA FOP

Prefácio

O processo de investigação cientifica é um dos mais bem estruturados de todos os esforços

humanos.

Na verdade, o progresso de pesquisas cientificas e médicas, raramente segue um caminho

em linha reta. Em alguns momentos, as descobertas cientificas se arrastam lentamente e em

outros elas literalmente “saltam” de forma tão rápida, que deixa todos boquiabertos.

Raramente (poderíamos dizer “quase nunca”), há algum aviso de que este tipo de

descoberta irá ocorrer. Ela apenas acontece e nós a percebemos, da mesma forma como

uma criança que está tentando resolver um quebra-cabeça percebe imediatamente que algo

novo está acontecendo – que peças que antes pareciam ser discordantes começam a se

encaixar de uma forma totalmente diferente. Uma grande descoberta é algo tão

revolucionário que nos faz entrar em um novo mundo – uma visão nova e tão espetacular

que todo o horizonte muda repentinamente e tudo fica diferente do que era há momentos

atrás.

Foi isto o que aconteceu conosco recentemente: a grande descoberta do gene da FOP.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

..O gene da FOP está envolvido no caminho de sinalização das proteínas

osteomorfogênicas (BMP)?

Obs: Um gene pode fazer com que o corpo produza sinais para que estruturas funcionem

ou não. Neste caso, a pergunta é se o gene da FOP está envolvido na produção de sinais

para o funcionamento das proteínas produtoras de ossos.

Claro que sim! Originalmente, nós imaginávamos que a FOP fosse causada por uma

mutação em um gene que estivesse de alguma forma envolvido no caminho de sinalização

das BMP. Este nosso pensamento estava correto. Após 15 longos anos, o gene da FOP foi

descoberto e é o gene que recentemente foi reconhecido como decodificador do receptor de

BMP e que é o coração e a alma do caminho de sinalização destas proteínas.

.. O que é o gene da FOP?

Como ele funciona?

O gene da FOP é o gene que decodifica o Receptor Activin Tipo IA ou ACVR1. Este é um

dos três tipos conhecidos de receptores de BMP Tipo I. Os outros tipos de receptor de BMP

tipo I são o BMPRIA e o BMPRIB.

Um receptor de BMP Tipo I é um “interruptor” protéico que transmite mensagens das

BMPs de fora para dentro da célula e como resultado determinam o destino desta célula. O

receptor ACVR1 é formado por 509 aminoácidos (um aminoácido é o “tijolo” que forma

uma proteína).

Na FOP, o aminoácido histidina é substituído pelo aminoácido arginina na posição 206 do

gene ACVR1. Esta substituição muda a atividade do receptor, parecido com o que ocorre

quando acontece um curto-circuito em um interruptor de luz.

Como ocorre com a maior parte de nossos genes, cada célula possui duas cópias do gene

ACVR1. Nas pessoas que têm FOP, uma das duas cópias do gene ACVR1 apresenta uma

mutação que faz com que a proteína ACVR1 (que é fabricada pela célula) seja produzida de

forma incorreta.

É extremamente empolgante sabermos que já não temos mais que tentar adivinhar qual a

causa da FOP. Sabemos exatamente qual é o problema e em que local ele ocorre no

“interruptor” molecular. Nosso próximo passo será determinar exatamente como a cópia

danificada (que sofreu a mutação) do gene ACVR1 modifica o destino das células no qual

ele age (se expressa).

.. Se o ACVR1 é um receptor de BMP por que ele é chamado de Receptor Activin?

Originalmente, o ACVR1 era tido como um receptor do fator de crescimento chamado

Activin que está envolvido em várias funções do nosso corpo. Entretanto, foi recentemente

descoberto que o receptor ACVR1 é predominantemente um receptor de BMP (mais do que

um receptor de Activin). Apesar disso, ele continua tendo o nome original de ACVR1. Até

a realização deste manuscrito, a maior parte das pesquisas a respeito dos receptores de

BMP Tipo 1 estava direcionada ao BMPRIA e BMPRIB, não ao ACVR1.

Com a identificação do ACVR1 como o gene da FOP, tudo irá rapidamente mudar, e os

cientistas de todo o mundo começarão a prestar mais atenção ao ACVR1. De certa forma, a

FOP fez com que se acendessem as luzes na direção deste receptor de BMP até então

ignorado e o impulsionou para uma posição de destaque científica e medica.

.. Quais as funções do gene do ACVR1 em nosso corpo?

O ACVR1 é um importante receptor de BMP que envia sinais para o “interruptor”

(mecanismo que liga e desliga) de células das cartilagens dos ossos em crescimento

(especialmente nas mãos e nos pés), do osso da maxila, da orelha média, arco aórtico, timo,

coração, e células do músculo esquelético. Uma pessoa não pode viver sem proteína

ACVR1. Um embrião de rato no qual faltam ambas as cópias do gene ACVR1 não produz

a proteína ACVR1 e não se torna um rato vivo. Na pessoa com FOP, as duas cópias do

gene ACVR1 (um da mãe e um do pai) estão presentes. Entretanto, uma cópia está

danificada de uma maneira muito específica.

A cópia do gene que está com defeito (danificada ou “mutada”) faz com que seja produzida

uma proteína ACVR1 também defeituosa.

Quando uma cópia super ativa (e portanto com defeito) do gene ACVR1 é introduzida em

uma galinha em desenvolvimento, as articulações (juntas) do corpo se fundem, o que indica

claramente o seu papel na formação das articulações. Estas observações, bem como o papel

do ACVR1 como um receptor de BMP, nos levou a considera-lo um excelente gene

candidato para a FOP. O desenvolvimento de ratos geneticamente projetados exatamente

com a mesma mutação no gene ACVR1 que causa a FOP nos seres humanos, nos permitirá

compreender melhor os papéis que a proteína ACVR1 tem na FOP e no desenvolvimento

humano normal, e, em conseqüência permitirá o desenvolvimento e o teste de possíveis

tratamentos.

.. De que forma o gene ACVR1 está danificado na FOP?

No FOP, o gene ACVR1 está danificado pela substituição de uma única letra genética em

uma posição específica no gene. Este único nucleotídeo (ou letra genética), muda o

significado da mensagem genética codificada pelo gene ACVR1.

Nota - ou seja, o gene ao ter uma pequena alteração na sua composição acaba mandando

para o corpo uma mensagem diferente do que deveria.

O genoma humano, que consiste em 6 bilhões de nucleotídeos ou “letras” do DNA, é o

código genético para a produção das proteínas do corpo - o maquinário da vida. Os genes

estão dispersos por todo o genoma e são escritos através de um código de quatro letras (A,

T, C, G). Os genes (o “livro de receitas do corpo”) são copiados pelo maquinário genético

das células (os “escreventes”) nos RNAs mensageiros (as “receitas”), que instruem os

ribossomos dentro das células (“cozinheiros”) sobre como fazer as proteínas específicas (as

sopas).

Vamos supor que um gene hipotético chamado SOPA FRANCESA DE CEBOLA

codificou uma mensagem que disse ao cozinheiro para adicionar o vinho (VINHO) à sopa.

As instruções genéticas são compostas de palavras de três letras e as palavras da sentença

genética são colocadas juntas sem marcas de pontuação. Desta forma, uma parte de nosso

gene hipotético pode ser lida como:

AGORAPONHAVINHO

O “cozinheiro genético”, para interpretar esta mensagem, precisaria separa-la em 3 palavras

de 5 letras. Desta forma, a mensagem ficaria:

AGORA PONHA O VINHO

E assim o vinho seria adicionado à sopa!

Vamos agora imaginar que exista uma mutação (defeito) que remova a letra “P” da palavra

“PONHA.”

Lembre-se que dissemos anteriormente, que as palavras genéticas são compostas de 3 letras

(no nosso exemplo colocamos palavras de 5 letras). O cozinheiro, para entender a

mensagem, a separaria em palavras de 5 letras e teria:

AGORA ONHAV INHO

Esta sentença não faz nenhum sentido e o cozinheiro jogaria fora a mensagem. Isto é

parecido com o que aconteceria em uma célula real, caso este tipo de defeito estivesse

presente.

Agora vamos imaginar um outro exemplo, no qual uma letra “P” a mais fosse adicionada à

mensagem. Novamente, como uma sentença deve ter palavras de 5 letras, a mensagem

seria lida pelo cozinheiro como:

AGORA PPONH AVINH O

Teríamos outra mensagem sem sentido e ela seria destruída pelo cozinheiro.

Vamos agora supor, que ao invés de tirar a letra “P” ou adicioná-la, a mutação envolva a

letra “V” que seria substituída pela letra “P” na palavra VINHO. Vejamos o que

acontece…

A mensagem, que originalmente era “AGORA PONHA VINHO”, seria lida pelo

cozinheiro como “AGORA PONHA PINHO”

Bem, neste caso a sentença faz algum sentido. Entretanto, esta é uma mensagem

completamente diferente da original, mudando completamente o significado da receita e o

gosto da sopa, pois o cozinheiro colocaria desinfetante na sopa (Pinho Sol) ao invés de

vinho...

É exatamente este tipo de mutação que acontece na FOP – a substituição de uma letra

genética por outra, mudando o significado da mensagem que o gene deveria transmitir ao

corpo. Assim, qualquer que seja a função do gene ACVR1 no corpo, quando uma única

letra genética está substituída em uma palavra genética específica (como no exemplo da

mutação que ocorre na FOP), a palavra muda, e mudam também as instruções genéticas. O

gene terá sua função ou intensidade de sua atividade alterada e esta mudança manda o

corpo construir um segundo esqueleto.

.. Apenas as pessoas que têm FOP têm o gene ACVR1?

Não. Todos os seres humanos têm duas cópias do gene ACVR1. Nós chamamos o ACVR1

de “gene da FOP” por que ele é o gene no qual a mutação (defeito) que causa a FOP foi

encontrada, mas todos os seres humanos têm duas cópias deste gene. Quando uma das

cópias está danificada em um local específico, o resultado é a FOP.

.. Qual o significado da equação abaixo?:

FOP = ACVR1(c.617G>A; R206H)

Nós sempre dissemos que quando soubéssemos algo realmente profundo e fundamental

sobre a FOP, não necessitaríamos de um grande livro para escreve-lo, apenas de um

pequeno pedaço de papel.

Algum dia, tudo que for essencial sabermos sobre a ciência e a medicina da FOP caberá em

um cartão de índice, que ainda terá muito espaço para anotarmos os resultados dos jogos de

baseball e as listas de compras! A incrível equação acima é realmente uma fórmula para

criar a FOP - um esquema genético que pode ser escrito em um pedaço de papel.

A fórmula diz que para produzir a FOP, você precisa pegar o gene ACVR1 e danificar uma

das suas duas cópias de uma forma altamente específica designada pelas anotações entre

parênteses. Primeiramente, você tem que isolar uma cópia do gene ACVR1. Então, você

tem que ir ao nucleotídeo (letra genética) 617 e substituir uma única letra genética - uma

adenina (A) para uma guanina (G) na letra do meio do códon de três letras (palavra

genética) número 206. A palavra 206 no gene ACVR1é normalmente soletrada como

“CGC”, que quer dizer Arginina (nome de um aminoácido) no código genético. Quando a

letra “G” é substituída pela letra “A”, a palavra de três letras transforma-se em CAC,

passa a ser o aminoácido Histidina do código genético. Assim, esta simples substituição

(de um “G” para um “A”) na letra do meio da palavra de três letras na posição 206 do gene

causa a substituição do aminoácido arginina (a) para o aminoácido histidina (h), e o

resultado é a FOP. Portanto, a substituição de uma letra genética por outra, em uma das seis

bilhões de letras genéticas que compõem o genoma humano – a menor e mais precisa

mudança que se poderia imaginar – cause um “curto-circuito” molecular que faz com que

grupos de músculos funcionais e tecidos conectivos se transformem em um segundo

esqueleto – o que significa em outras palavras transformar uma lâmpada em uma bomba

atômica.

Portanto, a equação FOP = ACVR1(c.617G>A; R206H) é o E = mc2 para o esqueleto.

.. Como a mutação do gene ACVR1 faz com que se ocorra a má-formação dos dedos

grandes dos pés no embrião e a formação de ossos extra após o nascimento?

Nós ainda não sabemos. O mecanismo molecular exato, através do qual a mutação do gene

ACVR1 causa um “curto-circuito” na sinalização da BMP e como conseqüência a máformação

dos dedos grandes dos pés antes do nascimento e a formação de um esqueleto

extra após o mesmo á atualmente desconhecido mas é assunto de intensa investigação no

Laboratório FOP.

Para que estas perguntas sejam respondidas adequadamente, será necessário desenvolver

um rato geneticamente modificado que tenha FOP. Desta forma, esta e outras questões

semelhantes poderão ser estudadas detalhadamente. Este trabalho já está em andamento.

.. Existem diferenças raciais, geográficas ou étnicas na mutação genética da FOP?

Não. A mutação do gene ACVR1 (que causa a FOP clássica) parece ser idêntica em todos

os grupos raciais e étnicos e em todos os pacientes de todas os lugares do mundo.

... Todas as pessoas que têm FOP têm exatamente a mesma mutação genética?

Até o presente momento, nós encontramos exatamente a mesma mutação no gene ACVR1

em todas as pessoas que têm a FOP clássica. Entretanto, a medida em que mais pessoas

forem submetidas a exames é possível descobrirmos que aquelas que apresentam formas

variantes da FOP clássica não apresentem exatamente a mesma mutação. Nós já

encontramos uma pequena família multigeracional, cujos membros afetados apresentam

características ambíguas da FOP. Um dos indivíduos afetados tinha apenas a má-formação

dos dedos grandes dos pés sem o surgimento de ossificações heterotópicas, enquanto o

outro não apresentava a má-formação dos dedos mas tinha ossificações heterotópicas muito

discretas. Esta família não foi incluída em nossa análise para localizar o gene da FOP gene

uma vez que seus membros não apresentavam os critérios típicos para o diagnóstico da

FOP clássica. E, na verdade, a mutação da FOP não foi detectada em nenhum membro

desta família. Assim, em todas nossas análises, e em todos os estudos futuros, é muito

importante identificar com cuidado quem têm a FOP clássica e quem tem uma variação da

FOP clássica. A FOP clássica é aquela em que os indivíduos afetados apresentam a máformação

congênita típica dos dedos grandes dos pés e ossificações heterotópicas

progressivas que se desenvolvem seguindo um padrão anatômico característico (ou seja,

que surgem seqüencialmente em locais previsíveis).

Todas as variações clínicas da FOP clássica precisam ser observadas com muito cuidado.

Em pacientes que têm formas incomuns de FOP (com outras características clínicas que

não são normalmente vistas na FOP), não seria surpreendente se encontrássemos alguma

variabilidade genética.

É interessante notar que a mutação da FOP no códon 206 do ACVR1 foi encontrada até

mesmo na pessoa que havia sido anteriormente relatada como portadora de uma mutação

no gene da noggin (relato este comprovadamente incorreto e inverídico). Já sabíamos há

muito tempo que os relatos feitos na literatura médica de mutações no gene da noggin nas

pessoas com FOP estavam incorretos.

.. Qual a relação entre a mutação genética da FOP e outras características da doença

tais como perda de audição, angiogênese, etc?

Esta é uma pergunta importante e intrigante, mas nós ainda não sabemos a resposta. Nós

acreditamos que a proteína ACVR1 tenha um papel direto em todos estes processos, e será

importante estudar estes aspectos particulares da função da ACVR1. Este é um mais um

exemplo de onde um modelo animal da FOP verdadeira será extremamente útil, e estamos

atualmente trabalhando para desenvolver este tipo de modelo animal.

.. Onde se localiza o gene ACVR1 (gene da FOP) no genoma humano?

ACVR1, um gene de tamanho médio, está localizado nos pares 158,418,469 (letras

genéticas) aos pares 158,557,131 contando do início do cromossomo dois. Se você

estivesse enviando uma carta a ele, no envelope estaria escrito:

MUTAÇÃO GENÉTICA DA FOP

CGC . CAC

ARGININA PARA HISTIDINA

CODON 206

DOMÍNIO GS (O INTERRUPTOR)

ACVR1

CROMOSSOMO 2

CEP: 158,418,469-158,557,131

GENOMA HUMANO

Se você começasse pelo final do cromossomo 2 e desse uma longa caminhada por uma rua

muito longa (o cromossomo dois é o segundo cromossomo mais longo do genoma

humano), você precisaria dar 158,418,469 passos antes de estar em frente ao ACVR1. Esta

é a casa em que encontramos a mutação da FOP – no terceiro piso, dentro da escrivaninha

antiga, atrás da gaveta, dentro do buraco onde estava a caixa marcada com as palavras

“estas são as chaves do esqueleto.”

.. Durante muitos anos pensou-se que o gene da FOP estava no cromossomo 4. Como

foi que chegamos ao cromossomo 2?

Nossas analises iniciais, que nos levaram a examinar o cromossomo 4, foram feitas com a

utilização de quatro pequenas famílias que apresentavam o padrão clássico de herança

autossômica dominante da FOP. Entretanto, nem todos os indivíduos afetados de cada uma

destas pequenas famílias multigeracionais tinham a má-formação dos dedos grandes dos

pés. Com a experiência de examinas vários outros pacientes FOP ao longo do tempo,

ficamos cada vez menos certos de que os pacientes que não apresentavam as duas

características típicas da FOP (má-formação típica dos dedos grandes dos pés e ossificações

heterotópicas) tivessem a FOP verdadeira. Desta forma, na análise que utilizamos para

encontrar o gene da FOP, decidimos usar apenas um sub grupo de famílias nas quais todas

as pessoas afetadas apresentavam características não ambíguas de ossificações

heterotópicas progressivas e de má-formação dos dedos grandes dos pés. A fidelidade

estrita aos critérios diagnósticos para a FOP, as famílias multigeracionais adicionais, e os

mapas refinados do genoma humano, permitiram que nós esclarecessemos a posição correta

do gene da FOP - que está no cromossomo humano numero dois, no endereço exato

descrito previamente.

.. Como foi descoberto o gene da FOP?

A descoberta do gene do FOP foi o resultado do trabalho árduo de pesquisa de muitos

médicos e cientistas durante muitos anos. Envolveu a identificação e o exame clínico de

famílias multigeracionais, a análise ampla do genoma, a identificação de genes candidatos,

e finalmente o sequenciamento do DNA e a análise dos genes candidatos.

Uma descrição detalhada da análise ampla do genoma e da seleção dos genes candidatos

pose ser encontrada on-line (www.ifopa.org) no 13º Relatório Anual do Projeto de

Pesquisas Colaborativas em FOP ; Maio de 2004.

.. Quando foi descoberto o gene da FOP?

A mutação genética da FOP foi descoberta em Agosto de 2005 no Laboratório de Pesquisas

em FOP na Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia (EUA).

.. Quem descobriu o gene da FOP?

A mutação do gene da FOP foi descoberta por médicos e cientistas no Laboratório de

Pesquisas em FOP na Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia. A primeira

pessoa a reconhecer a mutação do gene da FOP foi Meiqi Xu, uma cientista sênior

altamente respeitada que trabalha apaixonada e incansavelmente no laboratório de FOP

desde 1995. Meiqi havia notado algumas irregularidades no gene ACVR1, um gene

candidato altamente interessante selecionado para analise. Estes achados eram

suficientemente incomuns a ponto de exigir testes mais profundos. Uma mutação que

poderia ser a causa da doença foi suspeitada por Meiqi após ter comparado dados da

seqüência do DNA dos pacientes do FOP e dos controles normais.

Em um e-mail ao Dr. Kaplan, (que assistia à reunião anual do FOPeV - a organização

alemã de FOP, em Valbert, na Alemanha), datado de 17 de agosto de 2005 Meiqi escreveu:

Caro Dr. Kaplan:

Eu gostaria de bater em sua porta no meio da noite, mas eu sei que você não está em casa

nesta semana. Eu acho que as notícias de meus achados sobre o ACVR1 são muito

animadoras!!! Mais de 10 pacientes com FOP e mais de 20 controles normais foram

estudados e os dados do sequenciamento mostram que todos os pacientes com FOP têm

exatamente a mesma mutação heterozigótica, exatamente na mesma posição no gene

ACVR1 e que todos os controles normais não têm esta mutação. Os resultados indicam que

uma única mudança em um dos pares do gene possa estar relacionada com a FOP. Estou

estudando mais pacientes FOP agora para reconfirmar. Falei com a Dra. Shore esta tarde a

respeito dos dados encontrados porque estou muito animada. Estou esperando que você

volte de sua viagem à Alemanha para discutir isto com você. Vamos rezar para que este

seja o gene que estamos procurando.

Tenha uma boa viagem de volta.

Meiqi.”

.. Nós fomos surpreendidos pela descoberta do gene da FOP?

Sim e não. Não, porque nós tínhamos separado o gene ACVR1 para a análise como um

excelente gene candidato no cromossomo-2. Sim, por causa da surpreendente

especificidade da mutação. Ou seja nós não fomos surpreendidos encontrar o gene onde o

encontramos, na “casa” em que o encontramos. Entretanto, fomos surpreendidos por

encontrá-lo na “caixa especial” , dentro da “antiga escrivaninha” (veja neste Relatório a

sessão “A Descoberta do Gene da FOP: Um breve Resumo”).

.. Por que levamos tanto tempo para encontrar o gene da FOP?

Na realidade, não demorou tanto tempo, considerando-se o número pequeno de famílias

multigeracionais que nós tivemos disponível para nos ajudar a localizar o gene. O maior

fator limitante era a escassez de famílias multigeracionais, e levou tempo para

estabelecermos a infraestrutura médica e científica que tornou possível a identificação bem

sucedida destas famílias.

As famílias multigeracionais são o combustível que dão a força necessária para a busca de

um gene que causa uma doença genética humana. Esta busca é feita através de um processo

complexo chamado análise ampla de enlaces do genoma (explicada em profundidade no

13o Relatório Anual do Projeto de Pesquisa Colaborativa de FOP; Maio 2004 - disponível

on-line em: www.ifopa.org).

A descoberta de famílias multigeneracionais adicionais , o uso de critérios clínicos mais

estritos para definir a FOP clássica, o estabelecimento de mapas genéticos mais refinados

do genoma humano (possível pelo trabalho desenvolvido pelo projeto genoma humano), e a

descoberta e caracterização de genes candidatos no intervalo em análise aceleraram a busca

para do gene da FOP durante os últimos anos.

.. Como podemos ter certeza que o ACVR1 é realmente o gene da FOP?

A sustentação para afirmarmos que o ACVR1 é realmente o gene da FOP é enorme:

1. Por ser um gene que codifica um receptor de BMP, o ACVR1 é um candidato de

primeira linha a ser o gene da FOP.

2. O ACVR1 está no cromossomo 2, no exato local ao qual a FOP está relacionada através

de análises genéticas – em todas as famílias multigeracionais clássicas.

3. A mutação da FOP altera a região do ACVR1 que codifica a proteína e substitui um

aminoácido que tem sido altamente conservado durante milhares de milhões de anos de

evolução. Esta substituição acarretaria uma alteração na função do ACVR1.

4. A mutação do gene ACVR1 é vista em todos os pacientes FOP mas não é encontrada em

nenhuma pessoa normal (controle).

5. A mesma mutação no ACVR1 é vista em todos os indivíduos de famílias

multigeracionais afetados pela doença e em todos os indivíduos que têm a FOP clássica que

não fazem parte de famílias multigeracionais.

6. ACVR1 se expressa em vários tecidos, incluindo os músculos esqueléticos e as células

de cartilagem e uma cópia ativada (“enlouquecida”) do gene ACVR1 faz com que as

células musculares se comportem como células ósseas, aumenta a atividade das BMP4,

diminui a atividade dos antagonistas da BMP, expande os elementos cartilaginosos, induz a

ossificação heterotópica, e causa a fusão de articulações normais – características clinicas e

moleculares quase idênticas às que são vistas nas pessoas que têm FOP.

A confirmação final da mutação do gene da FOP será a demonstração de uma mudança

funcional na sinalização da BMP pelo ACVR1(R206H). Estes estudos estão em andamento.

.. Precisamos encontrar mais famílias multigeracionais?

As famílias multigeracionais eram a chave para identificar o gene da FOP. Permitiram que

nós estreitássemos dramaticamente a região do genoma humano onde o gene da FOP está

localizado tornando a nossa busca mais específica, “casa-a-casa”. Sem as famílias

multigeracionais, o trabalho não poderia ter sido realizado. Esta é uma excelente

oportunidade para agradecer a todas as famílias multigeracionais que contribuíram na busca

para o gene da FOP. Sem a sua ajuda, sua cooperação, e sua generosidade, a identificação

do gene do FOP não seria possível.

Agora que o gene da FOP está identificado, nós já não necessitamos encontrar famílias

multigeracionais a fim localizar o gene. Entretanto, nós estamos ainda mais interessados em

encontra-las, e por razões ainda mais importantes - para dar-lhes boas-vindas na

comunidade internacional de FOP, para dar a ajuda e informação a estas famílias que

sofrem o enorme desafio de ter mais de uma pessoa afetada pela doença, e para

disponibilizar a estas pessoas a grande variedade de recursos que a nossa vibrante e

generosa comunidade internacional oferece.

De ponto de vista das pesquisas, quereremos sempre verificar achados genéticos em todas

as famílias multigeracionais novas (bem como em indivíduos esporadicamente afetados)

para sermos vigilantes quanto a possibilidade de variações clínicas e genéticas novas da

FOP. Tais variações, se existirem, certamente refinarão e aprofundarão nossa compreensão

da FOP e fornecerão perspectivas importantes para o tratamento.

.. O gene ACVR1 e a parte específica do gene em que foi encontrada a mutação da

FOP são descritos como estruturas altamente conservadas através da evolução dos

seres vertebrados.

O que isto significa e qual o significado funcional desta conservação al longo da

evolução dos vertebrados?

O gene ACVR1 e proteína ficaram codificados no maquinário molecular do genoma dos

vertebrados (DNA) e nas células dos vertebrados, por mais de duas centenas de milhões de

anos antes dos primeiros dinossauros surgirem na face da Terra. A “palavra”genética que

codifica o aminoácido arginina no códon 206 da proteína ACVR1 foi preservada durante

todo este período de tempo, sugerindo que a natureza precisa manter uma arginina na

posição 206 do ACVR1 para manter o funcionamento normal das células, tecidos e órgãos.

.. Será possível agora fazer um rato com a FOP verdadeira? Que são os obstáculos?

Como o rato será chamado? Que este rato nos permitirá fazer? Como nos ajudará

encontrar tratamentos melhores e eventualmente uma cura?

Agora que a mutação do gene da FOP foi identificada, é muito importante desenvolver um

rato geneticamente projetado com exatamente a mesma mutação no ACVR1 que é

encontrada nas pessoas que têm a FOP. O gene ACVR1 é altamente conservado durante

toda a evolução dos vertebrados, dos peixes aos ratos e aos seres humanos, e o códon

específico que é mutado na FOP (códon 206) é exatamente o mesmo em todos que tem a

FOP clássica.

Ainda não sabemos se o rato ira ou não desenvolver realmente a FOP. Apesar do gene

ACVR1 no rato ser quase idêntico àquele nos seres humanos (e ao códon específico do

gene mutado na FOP é verdadeiramente idêntico), é possível que o rato não desenvolva a

FOP, pois outros genes do genoma do rato podem modificar o desenvolvimento do FOP.

Nós não podemos prever o que acontecerá, mas faremos o tal rato e prestaremos atenção

nele cuidadosamente. Examinaremos os dedos com muito com cuidado para ver se há má

formação, e, naturalmente, procuraremos por qualquer pequeno osso heterotópico que

possa surgir.

É tecnicamente difícil fazer um rato com FOP verdadeira, mas o conhecimento que

precisamos para fazer este rato está presentemente disponível. O desenvolvimento da FOP

em um rato geneticamente projetado irá proporcionar outro enorme avanço nas pesquisas

da FOP. Nos permitirá estudar o processo da formação da lesão da FOP e testar os

medicamentos e terapias que seriam extremamente difíceis ou perigosas de testar sem tal

modelo. Em muitas maneiras, um rato geneticamente projetado com FOP verdadeira nos

ajudará dramaticamente a avançar na busca de tratamentos melhores e de uma cura.

Entretanto, nós teremos que esperar e ver se o genoma do rato e a sua fisiologia irão

cooperar com nossas tentativas científicas de reproduzir a FOP. Se um rato com a FOP

verdadeira for desenvolvido, teremos uma competição para nomeá-lo. Fique ligado!

.. A mutação do gene da FOP afeta ACVR1, um receptor de BMP Tipo I.

Que outras doenças humanas estão associadas a mutações nos receptores de BMP?

A mutação do gene da FOP é a única mutação genética em seres humanos que foi, até o

presente momento, associada ao gene ACVR1. Entretanto, a mutação no gene ACVR1 que

ocorre na FOP está em meio a uma lista crescente de doenças humanas causadas por

mutações em receptores de BMP, que incluem mutações do BMPRIA (que causam a

síndrome dos pólipos do cólon), BMPRIB (que causam uma síndrome com malformações

congênitas dos membros e dedos), e do BMPR2 (que causam a hipertensão pulmonar

primária, uma doença fatal que atinge os vasos sanguíneos dos pulmões). A mutação no

ACVR1 que causa a FOP aumenta esta lista e estabelece uma ligação específica entre uma

doença catastrófica que causa a formação de ossos renegados e o altamente conservado

caminho de sinalização da BMP.

Embora o ACVR1 fosse reconhecido previamente como um receptor para BMPs, as

investigações de seu papel funcional no desenvolvimento embrionário e na regulagem da

diferenciação celular têm sido extremamente limitadas. A identificação de uma mutação

específico no ACVR1 que causa uma doença, tem implicações diagnósticas e terapêuticas

críticas para a FOP e identifica um novo foco investigativo para a biologia do esqueleto e

para a medicina regenerativa.

.. Existe alguma outra doença genética humana em que a mutação é tão específica e

precisa como é na FOP?

Conhecemos outras duas doenças humanas genéticas nas quais a grande maioria dos

pacientes apresenta uma mutação em um local específico do gene que as causa. Uma delas

é a Síndrome de Timothy - uma doença complexa que afeta múltiplos órgãos – e a outra é a

acondroplasia – uma forma comum de nanismo. Na acondroplasia, o gene afetado é

também um receptor chamado receptor 3 dos fatores de crescimento dos fibroblastos

(FGFR3). Mas, ao invés de ser um receptor para BMPs, o FGFR3 é um receptor para um

outro grupo muito importante de moléculas sinalizadoras chamadas fatores de crescimento

dos fibroblastos (FGFs). Na acondroplasia, a mutação muda um aminoácido muito

especifico no local em que o receptor está ancorado na membrana da célula. A função

normal do FGFR3 é diminuir a velocidade do crescimento das células de cartilagem nas

placas de crescimento dos ossos em formação. A mutação na acondroplasia, faz com que o

FGFR3 se torne mais ativo, diminuindo ainda mais a velocidade de crescimento (mais do

que deveria fazer) – e o resultado é o nanismo. Como na FOP, a mutação da acondroplasia

afeta apenas uma cópia do gene responsável pela doença. Apesar de a maior parte das

mutações que causam doenças genéticas afetar apenas um gene, as mutações costumam

estar dispersas por todo o gene. Isto não acontece com a síndrome de Timothy e com a

acondroplasia e também não acontece com a FOP clássica. Estas são as únicas doenças

genéticas humanas conhecidas nas quais a mutação presente na maior parte dos indivíduos

afetados é causada pela substituição de uma única letra genética em todo o genoma

humano, em meio a seis bilhões de letras genéticas.

.. Como a descoberta do gene da FOP irá afetar as pesquisas sobre a FOP?

Nós agora sabemos a causa do FOP a nível genético, e não levará muito tempo para

compreendermos o mecanismo a nível molecular – em outras palavras, descobrir como a

mutação afeta a função do receptor ACVR1, e como conseqüência afeta o destino das

células. Talvez este conhecimento possa ser aplicado – não apenas para o entendimento e o

tratamento da FOP, mas também para o entendimento e tratamento de muitas doenças

comuns que afetam o esqueleto – doenças como formas não genéticas de ossificação

heterotópica (que surgem após colocações de próteses no quadril, traumatismos cranianos,

traumas de medula, traumas esportivos e traumas por explosões em guerras), ossificações

heterotópicas em válvulas cardíacas no caso de doenças terminais que afetam estas válvulas

e até mesmo osteoartrite.

Talvez, algum dia nós possamos aproveitar a mutação do gene que causa a formação de

ossos renegados na FOP e para produzirmos ossos de uma maneira controlada - para os

pacientes que têm osteoporose grave, para aqueles com perda óssea grave após

traumatismos, fraturas que não consolidam, ou para crianças que têm malformações

congênitas da medula e dos membros.

.. Por que há tanta excitação pela descoberta do gene da FOP?

O excitamento sobre a descoberta do gene do FOP é resumido em uma carta escrita pelo

Dr. Kaplan e pela Dra. Shore aos editores da Nature Genetics , a revista sobre genética mais

importante de todo o mundo, na qual a descoberta do gene do FOP está publicada (versão

on-line: 23 de Abril de 2006).

“A identificação da mutação que causa a FOP é altamente significativa para pacientes com

esta doença uma vez que irá direcionar o foco dos esforços de pesquisa para o

desenvolvimento de terapias desesperadamente necessárias. Entretanto, acreditamos

intensamente que esta descoberta será do interesse geral de todos os médicos e cientistas de

todo o mundo por diversas razões:

1. O estudo identifica da mutação genética da FOP, uma doença grave e incapacitante que

atinge os seres humanos, e desta forma identifica o gene, ACVR1, como uma chave

reguladora da diferenciação celular.

2. A FOP é a primeira doença humana de origem genética relacionada ao ACVR1.

3. Apesar de a FOP ser uma doença rara, o entendimento da causa genética da formação

desregulada de ossos que ocorre nos pacientes com esta doença tem implicações

importantes para uma grande quantidade de doenças mais comuns que afetam o esqueleto.

2. O gene da FOP é uma das mutações genéticas mais específicas associadas a uma doença

humana. Uma doença causada pela mutação de um aminoácido específico é um achado

incomum e foi identificado somente em outras duas doenças genéticas humanas -

acondroplasia, uma forma de nanismo, e a síndrome de Timothy, uma rara doença genética

que afeta múltiplos sistemas orgânicos.

5. ACVR1 codifica um receptor Tipo I para as proteínas osteomorfogênicas (BMPs).

O caminho de sinalização das BMP é um dos caminhos de sinalização mais conservados na

natureza com papéis importantes não somente na formação do osso, mas também na

formação de outros órgãos durante o desenvolvimento embrionário inicial.

6. O campo de sinalização das BMP recebido enfoque em outros receptores tipo I

(BMPRIA e BMPRIB) como reguladores da diferenciação celular em cartilagem e osso. A

identificação do ACVR1 como um regulador crítico da formação de osso pela via

endocondral durante a embriogênese e de sua ação nos músculos e tecidos conectivos após

o nascimento irá indubitavelmente redirecionar os pensamentos e estimular maiores e novas

pesquisas sobre a biologia óssea. Esta descoberta terá um grande impacto na biologia

esquelética e na medicina regenerativa.”

.. Quanto tempo levará para usarmos este novo conhecimento para desenvolver

tratamentos e a cura?

Esta é a pergunta a pergunta mais difícil de todas a ser respondida e somente um tolo

estabeleceria um limite de tempo para isto. Não há nenhuma dúvida que a mutação do gene

da FOP é informação mais valiosa no enigma do FOP, mas não é a única que precisamos.

Precisaremos entender como o ACVR1 normal e alterado funciona e interage com os outros

receptors de BMP, como ele é regulado em condições normais e na FOP, como afeta e

altera o destino das células nas quais ele se expressa, como é afetado por traumatismos e

como ele funciona durante a embriogênese e após o nascimento. Este conhecimento nos

ajudará a determinar quais os tipos de drogas que precisaremos desenvolver e como iremos

administra-las aos pacientes.

Nós dissemos freqüentemente que a pesquisa da FOP é como tentar entender o diagrama de

fiação de uma bomba atômica de forma que a bomba possa ser desarmada com segurança

antes de explodir. Nós identificamos a mutação da FOP, o disparador da bomba atômica.

Agora, nós temos que entender como inativar este disparador com segurança. Isto levará

tempo. Temos muito mais coisas para aprender sobre esse disparador, e como ele está

conectado à bomba. Esta notícia é séria e mais sombria.

Mas a excelente notícia é que agora temos um alvo extremamente específico para o

desenvolvimento de remédios que irá imediatamente chamar a atenção de uma grande

quantidade de médicos e cientistas para este gene que foi descoberto e para a FOP.

.. Por que o ACVR1 é considerado a “chave do esqueleto”?

ACVR1 é a chave de esqueleto porque contém os segredos da formação de um segundo

esqueleto. É uma chave mais importante do que imaginamos. ACVR1 é um gene dentre

algumas dúzias de genes e proteínas que têm sido usadas durante os últimos meio bilhões

de anos para construir o esqueleto externo e interno de organismos vivos, das moscas de

fruta aos seres humanos. Remover o ACVR1 de um organismo, é letal. Se ele for alterado,

há um problema. A mutação da FOP no ACVR1 é uma chave vital para destrancar alguns

dos mistérios mais secretos da natureza.

.. Quão importante é a descoberta do gene da FOP?

“A Natureza provavelmente mostrará seus mistérios em situações nas quais ela mostra

traços do seu trabalho, fora do trajeto comum”. Estas palavras foram escritas por William

Harvey, descobridor do sistema circulatório em 1657, em uma carta que certamente poderia

ser o prefácio da descoberta do gene da FOP quase 350 depois. O ACVR1(R206H) não é

simplesmente a mutação que causa uma doença genética rara e incapacitante, mas é a chave

molecular de um processo biológico intrigante - a formação de um sistema orgânico

ectópico, um segundo esqueleto.

Como o autor Thomas Maeder disse em um artigo sobre a FOP no jornal The Atlantic

Monthly (“Algumas Centenas de Pessoas Transformadas em Ossos”, de Fevereiro de

1998), “A FOP e seus problemas estão no caminho de várias disciplinas que parecem não

estar relacionadas entre si. As respostas para as perguntas que a FOP apresenta irão servir

para responder questões ainda maiores sobre como o corpo cria a sua própria forma e então

sabe onde parar; como os tecidos decidem se transformar naquilo que são e por que não se

transformam em algo diferente.”

A descoberta da mutação no ACVR1 que causa o FOP ilustra como uma mínima alteração

em um componente de um caminho sinalizador crítico pode conduzir à formação de um

segundo esqueleto ou de um esqueleto ectópico. ACVR1 (R206H) terá que ser desativado,

neutralizado, ou contornado para que se possa tratar ou curar a FOP, desafios terapêuticos

que se encontram adiante de nós - mas que também podem ser aproveitados para criar osso

e esqueleto para aqueles que o necessitam desesperadamente - para aqueles que têm

malformações esqueléticas congênitas, que têm perda catastrófica perda óssea por

traumatismos graves ou amputações e, naturalmente, para as pessoas que têm doenças mais

comuns como a osteoporose, que afeta milhões de indivíduos.

A descoberta do gene da FOP é a descoberta a mais importante na história das pesquisa

desta doença e é também uma descoberta extraordinariamente importante para toda a

biologia do esqueleto.

.. Quem contribuiu para a descoberta do gene da FOP?

A descoberta do gene da FOP foi um esforço mundial realizado por muitas pessoas durante

os últimos quinze anos. Nós agradecemos aos membros do Consorcio Internacional de

Pesquisas em FOP que identificaram as famílias multigeracionais e/ou fizeram

contribuições importantes para este esforço colaborativo. Agradecemos aos pacientes e às

famílias FOP por ter-nos fornecido amostras de sangue para os estudos e pela sua coragem

e fé durante esta longa jornada.

Nós agradecemos a Jeannie Peeper e Amanda Cali por sua inspiração e liderança na

comunidade internacional de FOP; a muitos colegas pelas valiosas discussões sobre o curso

destas investigações, e aos muitos médicos de todo o mundo que nos enviaram pacientes

FOP e os ajudaram nos mandando amostras de sangue e tecido para análise. Reconhecemos

com apreço as contribuições dos cientistas de nossa própria universidade por sua ajuda

técnica extraordinária e pelas valiosas discussões durante a caminhada até esta descoberta.

Nós agradecemos as pessoas de muitas comunidades de todo o mundo, por sua fé e

generosidade durante todos estes anos.

Agradecemos também aos vários membros do laboratório de pesquisas em FOP (membros

atuais e que já deixaram de trabalhar conosco) por sua dedicação e apoio técnico

inestimáveis, particularmente aqueles que participaram na seleção do gene do candidato por

muitos anos.

A descoberta do gene da FOP foi apoiada pela Associação Internacional de Fibrodisplasia

Ossificante Progressiva, por doações das famílias Weldon e Cali e seus amigos, pelo

Professorado de Ortopedia Molecular Isaac & Rose Nassau, pelas sociedades Stephen

Roach-Whitney Weldon, Roemex e Grampian, pela Universidade da Pensilvânia e pela

Universidade de Oxford, por doações da Associação Pierre Yves, FOPeV, e do

National Institutes of Health, pelo povo de Santa Maria e por várias pessoas,

famílias, amigos e comunidades ao redor do mundo que contribuíram generosa e

incansavelmente para os esforços em prol da FOP. Dedicamos esta descoberta à memória

das crianças e adultos com FOP que nos inspiraram e nos deram determinação para

alcançar este extraordinário marco nas pesquisas sobre a FOP.

.. O que irá acontecer agora nas pesquisas sobre a FOP?

Ironicamente, esta pergunta foi nos foi enviada há pouco tempo por Hugo Fahlberg, uma

criança de sete anos que tem FOP e que vive em Eskilstuna, na Suécia. A mãe de Hugo,

Marie, nos escreveu o seguinte e-mail:

“Caro Fred:

Hugo está comendo o seu jantar e planejando para seu futuro - seu futuro no hockey e no

futebol - e ele sabe que você deverá encontrar o gene antes que ele possa jogar o hockey de

verdade - e que até lá ele deve jogar com seus amigos em casa na grama e com cuidado.

Mas, hoje, ele tem uma pergunta que eu fui incapaz de responder. Por isto eu deixei que ele

mesmo lhe escrevesse, e aqui está: Quando você encontrar o gene, o que você vai fazer com

ele?

Assinado, Hugo.”

Bem, Hugo, esta é uma pergunta maravilhosa, e não poderia ter vindo em uma hora melhor!

Nós acabamos de encontrar o gene da FOP! A primeira coisa que nós vamos fazer é uma

grande festa para comemorar!! Agora, nós sabemos finalmente a causa da FOP, e esta é

uma razão comemorar porque nos dá o primeiro indício real sobre como conserta-la.

Mesmo antes da festa, nós fizemos um pouco de lição de casa e escrevemos uma descrição

da descoberta do gene da FOP para outros cientistas e doutores. Achamos que muitos

doutores e cientistas de todo o mundo estarão interessados em saber qual é o gene que

causa a FOP , e talvez em pesquisar sobre ele também. Alguns cientistas poderão até

mesmo usar esta informação para ajudar algumas pessoas a fabricar mais ossos, como as

que estão com os ossos quebrados por jogar futebol e os outros esportes, ou algumas

crianças que nasceram sem uma quantidade suficiente de ossos em determinadas partes de

seu corpo, por exemplo.

Nós estamos tentando agora fazer um rato que tenha a FOP verdadeira, e já começamos a

trabalhar nisto. Os genes do rato são muito parecidos com os genes das pessoas, por este

motivo, a descoberta do gene da FOP nos dá uma grande pista sobre como fazer um rato

com FOP. Se nós pudermos fazer um rato com a FOP verdadeira, iremos testar remédios

novos no rato antes de testa-los em você. Agora que sabemos qual é o gene do FOP, temos

uma idéia melhor sobre os tipos de remédios que podem parar a FOP, para que crianças

com FOP possam jogar hockey e futebol sem correr o risco de formar ossos a mais pelo

corpo caso se machuquem. Nós ainda não temos estes remédios, mas já começamos a

busca-los.

A descoberta do gene da FOP é , pois nos ajudará a resolver o enigma da FOP.

Obrigado por fazer uma pergunta tão interessante!

Com amor a você e a toda a sua família,

Dr. Kaplan.

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Gosto muito desse poema que em um dos meus momentos de inspiração escrevi... Falo do tempo que acredito que precisa ser bem preenchido por bons momentos que a vida sempre nos proporciona.Felicidades sempre!
Vilma