sexta-feira, 22 de março de 2013
quarta-feira, 20 de março de 2013
sábado, 16 de março de 2013
E quero a desarticulação, só assim sou eu no mundo. Só assim me sinto bem. (Clarice Lispector)
E quero a desarticulação, só assim sou eu no mundo.
Só assim me sinto bem.
(Clarice Lispector)
Certos
desejos e instintos que são considerados como ilegítimos; revelam-se ao que parece
em todos os homens, mas em muitos estão submetidos ao domínio da lei e da razão...
São eles totalmente suprimidos ou quebrados em sua força e número... Refiro-me aos
desejos que despertam quando o poder raciocinante e diretor da conduta estão adormecidos;
o animal selvagem que temos em nós, só alimentado de materialidades, sai de seu
antro e dá larga a sua vontade; não existe crime ou loucura, por mais vergonhosa
e antinatural – como o parricídio e o incesto, que tais naturezas não cometam.
Mas quando o homem está em sadio equilíbrio e vai dormir sob o sereno domínio
da sua razão... Tendo satisfeito sem excessos seus apetites... Está ele com
poucas probabilidades de fazer-se joguete de visões desordenadas... Em
todos nós, ainda nos de melhor natureza, subsiste a fera que durante nosso sono
abre os olhos e espia.(Durant, 1966, p.45 e A República, 571-573,
p.411-14).
Deus,
um ser espiritual, que pensou o mundo antes de criá-lo – pensamento verbal - usou a Palavra como meio de expressão e como instrumento
de criação. O desenvolvimento da criança nos mostra que a Palavra é portadora
de realidade, Diga-se para uma criança com quatro anos que ela tem um linguão e
teremos problemas... A palavra criou o linguão. Para nós adultos, contaminados
pelos mitos, ela também, é muito eficaz: “O sertão vai virar mar, o mar vai
virar sertão”, profetizava Antônio e criava o evento no futuro, impondo
comportamentos para evitá-lo. Curiosamente, os mitos não servem ao modelo
arqueológico, em que escavamos e encontramos vestígios e reminiscências de
outros mitos. Quando eles se presentificam, vivos, estamos neles e eles, por inteiro,
estão regenerados, se é que, em algum tempo – atemporais que são -, foram
mutilados. Por isto, os lugares sociais, institucionais, a organização do
espaço e do tempo familiar, a escolha dos nomes dos filhos são experiências
vívidas; não podemos nos descolar delas sem violar tabus, perder a pertença
grupal e ficar dessubjetivados.
A
coisa pela qual a arte educa é simplesmente a sua existência. Trata-se
apenas de encontrar essa existência, o que quer dizer, pensar um pensamento (fazer
como fez Deus?).
Nosso longo período de fetalização
permite que nos impregnemos da cultura. Nascemos extremamente dependentes,
imaturos e vamos crescendo e nos desenvolvendo sempre nos moldes possíveis da
cultura – nas suas várias manifestações. Sendo que o que ora nos ocupa é a mítica,
vamos fechando nossas janelas biológicas neste processo.
Uma boa definição de saúde, então, é manter áreas insaturadas da mente
para continuar o desenvolvimento.
Evidente que, fora do modelo
biológico, pulsional, da fonte energética do corpo, do leito rochoso da
biologia, é muito difícil que as catedrais se sustentem, mas já não é mais possível
secundarizar a historicidade do humano... Se ouvirmos o silêncio num grupo,
alguém já disse, possamos profetizar.
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